Reuniões domingueiras intermináveis, aniversários, batizados, formaturas, casamentos, comemoraçães de todo tipo. Quem vê de fora pensa que vivem em harmonia. São joviais, alegres, parecem um grupo de velhas amigas. Mas faz tempo que eu “saquei” qual é a delas. Ainda adolescente, assistia àquele circo com um certo ceticismo. Me parecia que a necessidade de passar tanto tempo juntas, na verdade, era medo de estarem sozinhas, de se encontrarem consigo mesmas. Nem amigas elas eram. Nunca foram.
Eu tive a oportunidade de participar intensamente da vida da minha mãe e suas 4 irmãs porque quando nasci todas eram ainda muito jovens. Minha mãe, a mais velha, tinha só 20 anos. Há ate quem pense que eu sou a irmã mais nova. Aprendi que, isoladamente, essas cinco mulheres são boas pessoas, prestativas, grandes amigas para seus amigos, boas mães para seus filhos. Mas, se a vida lhes chama a funcionar juntas, como uma família, vê-se logo que são como um espelho quebrado, pedaços espalhados pra todo lado. Se alguém tenta juntar os pedaços, percebe que falta a cola. Falta amor. Falta saber amar.
De alguma forma, minha avó, a criatura mais doce que eu já conheci nessa vida, capaz dos mais singelos atos de afeto, falhou onde era mais importante acertar. Ela tentou, eu sei. Mas foi esmagada por acontecimentos absurdos que provavelmente afetaram as mulheres dessa família de forma irreconciliável. Não cabe a mim julgá-las, prefiro ser parte da mudança.
Depois de mim, mais duas meninas e um menino nasceram. Ainda lembro de cada um de meus primos quando eram bebês, eu tinha o maior orgulho de ser a mais velha. Sempre que era preciso eu estava lá, cuidando e protegendo meus pequenos. Na minha última viagem ao Brasil, percebi que nossa caçulinha tinha crescido, ainda que tenhamos resistido um pouco a aceitar. Somos todos adultos agora. Percebi também, não sem um certo alívio, que nos amamos mais do que nossas mães jamais foram capazes de se amar. E não temos medo de mostrar afeto. Minha avó olha pra gente com orgulho, com prazer mesmo, dá pra notar. Todo mundo meio que se alimenta do amor que há entre a gente.
Eu só espero que seja de verdade. Espero que quando a vida nos seja menos dócil, quando ela resolver nos surpreender com as inevitáveis adversidades, que nós estejamos juntos. Quem sabe, antes de partir dessa, minha avó ainda vai ver que conseguiu, demorou muito mas conseguiu formar uma família de verdade.
agosto 28, 2007 at 7:21 am
Olá, bom dia !!
Que lindo tudo isso que vc escreveu. Parabéns.
Abraços,
Lilian.
agosto 28, 2007 at 12:09 pm
Olá mto prazer!
Belas e sábias palavras…
Quanto ao post anterior entendo o seu ponto de vista e concordo plenamente.
Não gosto de generalizar pq a vida sempre te mostra uma forma de mudar de idéia a seguir!
Boa semana!
agosto 30, 2007 at 3:01 am
Eu sinto tantas saudades da minha família que está lá na Bahia, das nossas reunioes, do bate papo informal, de tá perto apenas…saudades…
agosto 30, 2007 at 10:21 am
Nossa.
Me sentindo muito uau com esse seu post e meio incompetente pra comentar.
A minha família é tao louca, tao louca, que nem sei. Isso dá vááários posts.
Mas a parte de minha mae pelo menos se dá relativamente bem. Umas se dao melhor com umas do que com outras (tem muita mulher e moram toda em Sao Paulo- menos nós- os homens sao minoria e estao espalhados pelo Brasil). Mas tem cada coisa que eu já via desde criança e nao podia comentar. Hoje que já sou adulta comento..hahahah. Tipo, eles (todas as irmas e o irmao mais velho) punem a minha tia caçula pq foi a que OUSOU ser mae solteira. Daí tudo que ela faz é horrível. Já meu tio caçula que é um porra louca dos piores ninguém diz nada. Nao sei se é pq é homem ou pq é caçula…Enfim.
Apesar de tudo isso elas se frenquentam, e se apoiam. Depois que vieram os filhos ficou mais complicado, pq umas nao concordam com o modo que as outras criam os filhos. Os filhos ficam ressentidos pq a tia fulana os julga.Mó bla bla bla…rss
A familia do meu pai até que é unida. Mas ele é o irmao canalha que odeia todo mundo e que todo mundo odeia. Rolo total.
Eu acho que estou superando as cicatrizes e começo a ter um relacionamento decente com meus meio-irmaos (por parte de pai) e com um irmao de pai e mae que tb foi muito canalha a vida toda e parece que hoje está arrependido e orgulhoso da irmao do meu (eu!). Pelo menos com a minha irma cacula (de pai e mae)eu sempre tive um relacionamento tao bom, tao bom, que ainda acho que ter irmao é muito legal.
Sei lá. Será que existem famílias normais, ou todas sao loucas como a minha? hohohohoho
Beijao.
agosto 30, 2007 at 3:21 pm
credo.
“orgulhoso da irma do meio”
era isso 🙂
setembro 12, 2007 at 6:52 pm
Pelo visto, sua avó atirou no que viu e acertou no que não viu — mas está vendo agora… Que quando chegar a hora ela tenha a sensação de “missão cumprida”.
Beijo.
setembro 25, 2007 at 7:33 am
Olá, Carla. Cheguei através do delicioso VnV. Que prazer estar aqui. Faz idéia do que esse post fez em mim. Obrigada. 🙂
Ola, palpiteira! Seja bem-vinda. Ainda mais vindo do Vnv, ave maria, que honra!
janeiro 9, 2011 at 3:02 pm
[…] ja escrevi sobre isso aqui, numa epoca em que acreditava que as coisas iriam mudar. Hoje eu nao tenho ilusoes. Passou. […]