A aluninha de mestrado, inteligente pra burro, disse assim:
– Professor, mas o cenário da educação nos Estadunidos vai mudar, porque a atual economia vai fazer com que a quantidade de alunos diminua. Mas, veja bem, daqui a cinco anos (exatamente cinco), quando os alunos voltarem às universidades, será um publico diferente, bem minoria, bem afro-americano, bem latino.
E o vizinho de cadeira dela arrematou lindamente:
– E é justamente por isso que nós (tira meu nome da lista, capiau), estamos discutindo a necessidade da ação afirmativa nos dias de hoje. Brevemente, as minorias não serão mais minorias, e o branco não sera mais maioria.
Eu olhei ao redor e contei: 1 latina, 1 preto (em português a gente pode, né? ou não pode mais?), 1 chinesa e 16 brancos, incluindo o professor, que nada disse numa hora dessas. Eu não sei onde é que os mano ali do canto vivem, mas certamente não é no mesmo país que eu.
Deixa quieto que tá no fim da aula e eu tenho peixe maior pra matar em casa. Deixa o pessoal ir pra casa ouvindo Rush Limbaugh no radio do carro, que deve ser onde eles aprendem essas coisas fantásticas.
Explico: Sim, a população latina nos Estados Unidos está aumentando muito, mas está longe de ser maioria nas escolas particulares que eu e esses fofos frequentam. Cinco anos é muito pouco tempo pra que essa mudança tão radical aconteça. Eu não sei bem o que esse pessoal entende como universidade, certamente não são os centros de produção de diploma em massa onde os latinos e os negros se encontram.
Os professores das universidades americanas são brancos, os alunos são brancos, os profissionais de alto nível, os que trabalham perto do presidente e que realmente tomam as decisões são brancos. E homens.
A presença do jovem negro na cadeia, essa sim, ainda é altíssima. A quantidade de negros que ingressam na universidade pode até ser significativa, mas os números enganam os menos interessados em olhar mais adiante. Os negros também tem um alto índice de desistência. Isso acontece porque os programas sociais são muito bons, criam oportunidades para o adolescente de cor, pobre, ir pra universidade. Mas as escolas de segundo grau do bairro onde ele mora são péssimas, o cara não aguenta dois anos. E quem há de dizer que ele se sente à vontade com aquela gente branca, de classe média-alta, que não sabe da vida dele sequer o começo?
O número de negros em escolas pra negros, segregados, ainda é muito alto. O número de brancos em escolas pra negros, muito baixo. E eu não estou dizendo que as universidades negras (HBCUs) não são boas, elas têm um papel essencial na história desse país. Mas é segregação, ou não é?
Quando você ouve alguém insinuar que a ação afirmativa não é mais necessária, pode apostar, é um branco falando. Eu nunca vi um negro se dar por satisfeito, se achar bem representado, e dizer que a ação pode sair de cena. Nem depois de Obama.
Outro dia, na aula de outra matéria, alguém disse que a informação está aí pra todos, que o papel do professor de segundo grau é dar o conteúdo em classe e informar os alunos sobre as oportunidades. Ela ignorou completamente os professores que colocam os alunos pra baixo. Os que aconselham os alunos de cor a pegar matérias mais fáceis, que não ajudam em nada no acesso à universidade. Há ainda os que aconselham os alunos de cor a pegar matérias profissionalizantes, que aumentam a possibilidade de encontrar um emprego, pro caso de precisar. Isso tudo, aliado ao fato de que o ambiente em casa não deve ser lá muito propício, torna as coisas muito difíceis pra esses adolescentes.
Por essas e outras coisas, nos Estados Unidos que eu conheço, não acredito que os negros e latinos serão maioria na universidade não, viu? Não em cinco anos. Ainda precisamos muito da ação afirmativa como movimento de mobilidade social.